Pessoas com limitações cognitivas e comportamentais, por diversos motivos, como Traumatismo Crânio Encefálico (TCE), Lesão Encefálica Adquirida (LEA), Anóxia, Demência, Escleroses e Parkinson por exemplo, acabam por apresentar declínios em relação a algumas funções essenciais para se relacionar com o mundo. Funções essas que se associam e favorecem a pessoa para que possa ter independência e autonomia, como a atenção, concentração, os diversos tipos de memória, comportamento inibitório, linguagem.
As pessoas que apresentarem perda dessas funções, seja ela parcial ou total, vão precisar de cuidados com o objetivo de se aproximar o mais possível das condições anteriores ao problema de saúde, ou ainda trabalhar para que não haja perdas rapidamente. Um recurso utilizado nessa jornada é a Reabilitação cognitiva e comportamental.
A reabilitação tem a função de remediar ou compensar as habilidades que por algum motivo foram diminuídas. Podendo ser incluídas nesse processo de reabilitação, especificamente, a cognitiva e comportamental, que visam adequar a capacidade da pessoa para interpretar os estímulos proporcionados pelos contextos e a habilidade de organizá-los para serem utilizados nas relações com o mundo, interagindo.
Pensando nesse processo de reabilitação, por meio do uso de estimulação, seja por meio de treino ou mesmo a aprendizagem de novos recursos é necessário que a pessoa tenha autoconsciência de sua condição. Visto que irá facilitar ou dificultar os processos de intervenção.
Ao pensar em autoconsciência, salienta-se que é um conceito importante em todos os pilares que sustentam uma pessoa, uma vez que proporciona a condição de poder se auto observar, diferenciando as condições atuais comparada com as condições que já teve um dia. Sendo assim, favorece a consciência sobre si própria, os processos pessoais, sendo uma dimensão privada, que se tem acesso ao refletir sobre tal dinâmica.
Vários são os motivos que levam uma pessoa a não ter a autoconsciência, uma vez que, muitas vezes não somos educados a nos “ler” com certa frequência, essa autoleitura facilitaria no processo de reabilitação. Mas nesse escrito será mencionado o comprometimento da autoconsciência, uma vez que pode ser um dos fatores de impedimento para o processo da reabilitação.
Há três tipos de consciência que temos que avaliar e trabalhar que favorecem o processo da autoconsciência. Apresenta-se os tipos na figura a seguir.
Cada tipo de consciência tem a sua importância no processo de reabilitação, pois proporciona a pessoa a possibilidade de se envolver no tratamento e aderir as orientações, uma vez que, o posicionamento da pessoa é fundamental no envolvimento das atividades, assim como o seu desejo de melhorar e chegar a sua condição o mais próximo da realidade anterior, conforme citado anteriormente.
Tem-se então a Consciência intelectual, que envolve o reconhecimento da pessoa em identificar qual a função específica que está comprometida, ela consegue descrever suas limitações funcionais. Já a Consciência emergente refere-se à capacidade da pessoa em reconhecer um problema somente quando ele acontece, é preciso que ela esteja vivenciando a dificuldade para identificá-lo. E por fim a Consciência antecipatória que é a capacidade que a pessoa apresenta ao prever que o problema poderá ocorrer em decorrência do seu comprometimento.
Estudos tem mostrado que há uma hierarquia quanto a percepção das limitações, o que pode nos dar dicas de como iniciar o programa de discriminação e autoconsciência. As limitações físicas são as mais conscientes seguidas das limitações cognitivas, sociais e comportamentais. É claro que se pode notar que quando a pessoa tem comprometimentos físicos estes estão mais aparentes do que os outros mencionados, o que evidencia que a percepção de si mesmo, por meio de observação visual, e execução de movimentos são substancial para a independência e autonomia, portanto, a autoconsciência nesse quesito fica mais fácil.
Pelo fato das limitações físicas serem aparentes, é importante dar início nesse domínio seguida e muitas vezes em conjunto com as intervenções nos outros domínios – cognitivo, comportamentais e sociais. A decisão de como combinar as terapêuticas depende do resultado as avaliações durante o processo.
Outro dado importante, que está presente no processo da autoconsciência, é que muitas dessas pessoas, por terem limitações cognitivas, elas apresentam dificuldade de ter insight, não identificando as mudanças. Para tanto é fundamental ter formas de registros que possam ser observadas, identificando-as e elaborando/selecionando atividades, por meio de sucessão gradativa de complexidade para se chegar ao ponto máximo de aproveitamento.
Conclui-se que a falta de autoconsciência, afeta negativamente a reabilitação, porque as pessoas que não percebem seus limites podem apresentar variação de motivação e até mesmo não aderir ao tratamento.
Adriana Said Daher Baptista
Hart T, Sherer M, Whyte J, Polansky M, Novack TA. Awareness of behavioral, cognitive, and physical deficits in acute traumatic brain injury. Arch Phys Med Rehabil. 2004;85(9):1450-6. DOI:http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2004.01.030
Hart T, Sherer M, Whyte J, Polansky M, Novack TA. Awareness of behavioral, cognitive, and physical deficits in acute traumatic brain injury. Arch Phys Med Rehabil. 2004;85(9):1450-6. DOI:http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2004.01.030