A gestação e o puerpério são períodos da vida da mulher que precisam de especial atenção, pois envolvem inúmeras alterações físicas, hormonais, psíquicas e de inserção social, as quais refletem diretamente na saúde mental dessas mulheres.
Uma intervenção psicológica nesse período visa prevenir a saúde mental e física da mãe e do bebê, colaborando com um vínculo saudável entre ambos. Permitindo que a mulher lide com as dificuldades e com os sentimentos conflitantes, podendo aproveitar de forma satisfatória essa nova fase de sua vida.
Apesar de a gestação e o puerpério serem considerados períodos de bem estar emocional, eles não protegem as mulheres dos transtornos do humor. Por mais contraditório que possa parecer, muitas mulheres apresentam tristeza ou ansiedade em vez de alegria nessas fases de suas vidas; sendo que os limites entre o fisiológico e o patológico podem ser muito estreitos.
Muitas mulheres sentem-se culpadas por experimentarem sintomas depressivos num momento que deveria ser de alegria, guardando sentimentos tais como tristeza, raiva, ansiedade, medo e frustração apenas para si. Negando a existência de uma patologia, dificultando dessa forma o diagnóstico e tratamento.
Nesses períodos as mulheres tornam-se especialmente sensíveis e muitas vezes confusas e a ansiedade normal e a depressão reativa são extremamente comuns.
No puerpério a labilidade emocional é o padrão mais característico; a euforia e a depressão alternam-se rapidamente, podendo essa ultima atingir grande intensidade.
Na gestação os níveis de estrógeno e progesterona são superiores (esse fator costuma estar envolvido nas alterações do humor que ocorrem nessa fase) e a queda brusca desses hormônios no pós-parto costuma afetar diretamente o humor das mulheres.
Além disso a rotina da mulher muda totalmente no puerpério, a responsabilidade aumenta, ela deixa de ser cuidada como costumava ser durante a gestação e precisa assumir a responsabilidade de cuidar de outra pessoa. Muitas vezes ocorre privação de sono devido os cuidados ao bebê e a amamentação (a qual apesar de extremamente importante não é tão fácil, podendo gerar frustração, culpa e ansiedade na mulher), além da preocupação constante com o bebê e o medo de perdê-lo.
Quando a mulher está amparada socialmente por amigos e familiares tais tarefas ficam mais fáceis. Portanto a falta de apoio social é um fator de risco a depressão.
Vários fatores de risco psicossociais são relacionados à transtornos de humor no puerpério, por exemplo, idade inferior a 16 anos, conflitos com o companheiro, ser solteira, problemas financeiros, pouco suporte social, história de transtorno psiquiátrico, diagnóstico de transtorno disfórico pré menstrual, gestação de risco e abortos espontâneos anteriores.
Na tabela abaixo podemos ver os principais fatores de risco para o desenvolvimento de depressão na gestação. Lembrando que a presença de depressão na gestação costuma estar associada a sintomas depressivos no puerpério.
São três os transtornos psiquiátricos puerperais encontrados na literatura: disforia puerperal (baby blues), depressão pós-parto e psicose puerperal.
A disforia puerperal é um distúrbio emocional transitório, costuma acometer as puérperas por volta do quarto ou quinto dia após o parto, remitindo de maneira espontânea, no máximo, em duas semanas. Acomete em média 50% a 85% das puerpéras. Inclui choro fácil, labilidade do humor, irritabilidade e comportamento hostil para com familiares e acompanhantes. Normalmente, nesse caso, não é necessária intervenção farmacológica, sendo importante compreender a mulher e oferecer suporte emocional e nos cuidados ao bebê.
A depressão pós parto é um distúrbio comum e sua prevalência está entre 6,8% e 30%, podendo iniciar entre duas semanas até três meses após o nascimento do bebê. O conjunto de sintomas é o mesmo do quadro da depressão: humor deprimido, choro fácil, irritabilidade, perda de prazer e interesse nas atividades, alteração de peso e/ou apetite, alteração de sono, agitação ou retardo psicomotor, sensação de fadiga, sentimento de inutilidade ou culpa, dificuldade para concentrar-se ou tomar decisões e até pensamentos de morte ou suicídio.
Quando comparadas às mães não deprimidas, observa-se que as mulheres com depressão pós parto gastam menos tempo olhando, tocando e falando com seus bebês. Tendem a interromper a amamentação mais precocemente e lidar com seus bebês de forma indecisa e pouco afetuosa.
Nesses casos geralmente é necessário o uso de medicação antidepressiva, as quais tem se mostrado eficazes e essenciais no tratamento, podendo ser associadas à terapia comportamental a qual também tem tido bons resultados.
A psicose puerperal é o transtorno de humor mais grave que pode ocorrer no puerpério e também o menos comum, tendo incidência de 0,1% a 0,2%. Tende a ter início abrupto entre a segunda e terceira semana após o parto. É caracterizado por insônia, distúrbios do humor, comportamentos incomuns do indivíduo, estado confusional, episódios transitórios de delírios paranoides, alucinações e flutuações catatônicas ou estado de letargia.
Apesar de o suicídio ser raro no período puerperal, a incidência deste nas puerpéras com transtornos psicóticos é alta, necessitando muitas vezes, além do tratamento medicamentoso, de intervenção hospitalar.
Lembrando que sempre que possível mãe e bebê devem permanecer juntos e para isso é importante o apoio da família e amigos, pois na maioria dos casos de psicose puerperal é necessária a presença de um acompanhante 24 horas, evitando riscos de suicídio e infanticídio.